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Essa menina... não tem jeito
Sabe de que mais eu tenho saudade, mãe?
É de quando você assumia não me dar conta.
Bastava um grito para eu ganhar um colo com sabor de avental molhado.
Consigo vê-la e até sentir seu cheiro, uma mistura de café com tempero...
O cheiro da sua cozinha que nunca a vi silenciosa, nem inodora.
Nunca a vi vazia.
_Essa menina... não tem jeito!
Ah, sinfonia!
Guardo-a na caixinha da costura junto aos seus novelos.
Quantas noites eu a ouvi enquanto dormia...
Enquanto eu fingia dormir para ouvir as conversas de adulto.
Que pena fingir tão bem, privei-me de uma vez mais ouvir tal melodia.
_Essa menina... não tem jeito!
Ah, que profecia a sua, quando achei o jeito, perdi a menina.
Hoje não tenho as duas.
Sabe, mãe, se você pudesse me ouvir agora, o que eu te diria?
Que a minha saudade são nuvens de algodão,
Onde eu brinco de esconde-esconde, e fico a espiar de longe,
Suas mãos tecerem no tilintar das agulhas
Nossos dias de separação


Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 11/03/2017


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr