Textos

Os dias eram assim...
          Tive, na minha vida, uma precoce vocação pra modista. As roupas das bonecas eram meu sonho para o futuro, em cada uma delas eu via uma pessoa de verdade. Denner, Clodovil eram os ídolos com quem eu sonhava. Eles eram costureiros, eu não sabia qual era a diferença de um costureiro e uma costureira, e até hoje não sei.  Conheci costureiras que são, até hoje, verdadeiras artistas na arte de modelar, e conheci costureiros que a única coisa que me chamou atenção foi o preço cobrado por algo que não me atrevi a usar.
          Tive também minha fase de querer ser artista, minha adolescência foi cheia de inveja das atrizes das novelas beijando meus ídolos, que já eram outros, quando deixei as bonecas. Quantas viagens eu fiz ao ver Regina Duarte,  Bete Faria, Maria Fernanda e, não me lembro de mais quem, foram tantas.
            Um pouquinho mais adulta, eu viajei também pelo cinema. Ah, quantos sonhos esses personagens protagonizaram, quantos beijos foram idealizados. Até que um dia surgiu a oportunidade, não de ser atriz, mas para saber como era ser beijada. Eu me lembrei das caras e bocas das invejadas e não deixei por menos, o moço parecidíssimo com James Dean, lambreta, jaqueta e topete, não me poupei, fiz aquela cara de Scarlett  O’hora e senti, na minha boca uma baba visguenta com sabor de cebola, e a língua que não parava dentro da boca. Que horror, troquei, nesse dia, a inveja por pena daquelas que eram obrigadas, desculpa o trocadilho, ao ósculo com asco. Que profissão ingrata!
         Mas nada a ponto de me traumatizar, de me fazer querer entrar para um convento, por exemplo;  continuei sonhando, quem sabe com alguém mais amadurecido a ponto de não comer uma cebola antes de um possível beijinho. E  vi certo dia, ou melhor, certa tarde um cidadão que me lembrou um galã do cinema antigo. Eu sou persistente, pensei em Rita Hayworth, e encarnei Gilda, nunca houve uma mulher como ela. A presa   era , naquele momento,  um  Clark Gable, armei  meu arco e flecha e atirei...  
Que beijo! Não sei por quanto tempo  não senti a boca e nem as pernas. __ Não houve baba?__ Se houve , engoli ou não percebi, acho que quem babou nesse dia fui eu. Quando dei por mim, o vento nos levara direto para o altar. Naquele tempo, os dias eram assim...
Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 10/12/2017


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr