O assalto
Há três ou quatro décadas, criticavam-se a televisão, diziam que a dona da nossa sala criava os nossos filhos e os educava muito mal. Que nossas crianças pareciam robôs, que eram todos iguais, vestiam as mesmas roupas, falavam a mesma língua, os mesmos ditos, as mesmas gírias e as mesmas manias, e o que era pior: era uma geração de incivilizados. Hoje nós temos a internet, o celular as redes sociais e quem duvidava que a coisa pudesse ficar pior se enganou, temos tudo que a televisão produziu no cidadão mais o estado de zumbi.
Outro dia, eu esperava o ônibus, no ponto, no centro da cidade, eu e mais três jovens. Duas garotas estavam de corpo e alma ligadas no celular, na internet, em alguma rede não sei onde, ali, no ponto não estavam quando um garoto desceu da garupa de uma moto, apontou a arma, e levou tudo. Meu, levou o pacote que eu tinha nas mãos __ um sapato que eu comprara a menos de trinta minutos__, a mochila do menino de uns quinze anos que lia um livro, este foi preterido, e os celulares das moças.
Ficamos todos sem palavras, menos uma das garotas que olhou no entorna, não vendo nada, porque foi tudo muito rápido, perguntou: __ O que aconteceu???
Bem, pelo menos não sofreu, __ pensei alto __não ficou traumatizada diante da arma, __ eu nunca vira uma tão de perto __ comentei com o garoto que ficara sem a mochila. Ele me respondeu que eu estava enganada: __ Ela está em estado de choque, ficou desconectada.
Eu fiquei a refletir se o estado de choque da garota era porque se desconectara durante o evento ou porque já estava desconectada quando se deu o sinistro.
Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 01/09/2017