Textos

É o bicho
        Ninguém escreve sobre o que não sabe, não conhece, não viu ou não admira, nosso meio, certamente nos influencia. Deve ser pela minha profissão, professora de línguas, que escrevo e foco tanto no jovem, pode parecer uma crítica, mas, juro, a porcentagem de admiração é maior. Eles têm uma capacidade de fazer com que eu aprenda a desaprender incrível.  
       Continuo achando que o jovem é desconectado com nossa realidade, ou  sou eu com a deles. Inúmeras são as vezes, que penso ser o meu ritmo que não acompanha a velocidade dessa moçada que há muito não tem o pé no chão, mas a criatividade que deságua por um veio, não sei onde, dessa, eu nunca duvidei.
Dia desses, terminada a minha explicação e pensando num possível maior esclarecimento, perguntei:
        __Dúvidas?__ uma ruiva, que durante a aula, não fechara a boca, mas não é de falar, não; é a boca mesmo, sabe a mandíbula assim, sentindo pesado o queixo, então,  levantou a mão. __Ótimo, pode falar, moça: __Eu posso ir ao banheiro?
        Eu, na minha lentidão, fiquei sem saber, se a dúvida era sobre a aula, ou se ela tinha dúvida sobre sua necessidade de ir ao banheiro. Não teve jeito, retirei a máscara de professora e mostrei a cara nua deixando a sala em choque: a professora não entende nada!
        Mas nem tudo estava perdido, uma outra aluna soltou uma pérola preciosíssima que ficou rolando pela sala: __liga não, professora, ela é assim em todas as aulas, a professora de biologia, outro dia, disse que tem gente que não é oriunda de um óvulo fecundado por um espermatozoide, mas por uma lombriga. Enquanto me recuperava do engasgo com a saliva, fui obrigada a intervir num tumulto que se formou em defesa da indiretamente atingida. Lá do fundo da sala, alguém dizia que não se deve botar fé em quem, certamente, vai morar na zona.
       __Que horror, olha o bullying, professora, você não faz nada?
       Como assim, não faz nada? __ Vai morar na zona rural, vai ser uma fazendeira, oras...
      __É isso mesmo, vou ser uma fazendeira e ela vai ser minha vaca.  
Meu Deus, quanta criatividade para confusão, esta cresceu proporcional ao tamanho do bicho. E o trololó não parou por aí:
       __É melhor ser uma vaca do que uma cabrita. __ A sala se dividiu em defesa do rebanho. Não externei minha opinião, mas, sinceramente, eu não vejo diferença.
       De olho no placar, __alguém estava perdendo__ pensei, quando a suposta bovina ameaçou furar os olhos da caprina e precisei entrar em cena:
__Filha, pensa bem, veja o dólar, uma vaca vale três vezes mais que uma cabrita.
  
Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 27/09/2017


Comentários


Imagem de cabeçalho: raneko/flickr