No reino das palavras
Embora goste do conto, da crônica, minha paixão é a poesia. Atrevo-me às vezes a escrever em verso e é sempre uma alegria fazê-lo. Ver o poema pronto, conseguir expressar o que penso por meio dele é um prazer indescritível e um dilema: Fui eu que o fiz, ou se fez sozinho o poema?
Carlos Drummond faz uma recomendação, em uma de suas obras primas, àqueles que se atrevem ao poema: que não os façam do que viram, do que vivenciaram, mas que, ao se chegar no reino das palavras, devem colhê-los; eles, os versos, certamente estarão lá em estado de espera. E que ao buscá-los, não devemos nos revestir de ansiedade, que simplesmente colhamos aqueles que estão prontos, maduros, suculentos, no ponto de ser saboreados.
Respeito, claro, esse senhor sabe tudo da arte de poetar, difícil é resistir a fruta que se balança nas alturas. Ah, nesse reino, vez ou outra, lá vou eu nessa viagem, revestido de imaginação e levando na mala o sábio conselho, não só quando ouso a persegui-lo na construção, mas também, enquanto leitor, gosto de me manter ativo. Além dos frutos dos quais me farto, lá também é possível encontrar amigas, moças, antigas, belas donzelas com seus encantos e mistérios, algumas nuas, tão perfeitas que fica quase impossível não censurá-las e camuflar a inveja .
As pudicas, timidamente vestidas, nos proporcionam passeios em deliciosas companhias, independente do tempo. Tem sol? Um chapéu para elas, o leitor não precisa de proteção, aliás, quanto maior a exposição maior o prazer, maior a sedução. Mas atente-se, magia e o encanto nos quais se apoiam esses elementos é fragílimo e pode acabar em confusão. Cuide-se, proteja-se das traiçoeiras das dissimuladas, das ambíguas. Há que se estar sempre pronto para o encontro, andar sempre prevenido sem se sentir promíscuo.
Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 03/02/2018