A mulher que a mulher (per)deu
Assim disse Heráclito: __Mudança é a lei da vida e do universo. __ (535-475 ac). Houve quem contradisse: __Não há pois, nada de novo sob o sol __ (Eclesiastes 1:9). Até entre os sábios, não há consenso, os opostos coexistem há séculos.
Aproveitando o dia da mulher a se comemorar a pouco, é pertinente algumas reflexões tais como: os ganhos e as perdas dentro das conquistas.
Costumamos imaginar que pelas vitórias femininas, pelos avanços sociais, pela expansão das técnicas que acompanharam a chegada do século XXI, a mulher vive o seu quase apogeu, e que o homem perdeu sua santidade e sua Amélia. Isso é quase uma verdade, mas não só o homem perdeu, perdemos: homens e mulheres.
A mulher foi obrigada a brigar, ingloriamente, por uma igualdade com o homem, mas não conseguiu, porque não somos iguais. A mulher tem um diferencial, ela é co-criadora, um aspecto divino que está perdendo a divindade, nessa sociedade, esquecida de que numa guerra não há vencedores.
E à luta elas foram coagidas, não só por sábios, mas também por santos “A mulher é filha da falsidade, sentinela do inferno, a inimiga da paz, por causa dela, Adão perdeu o paraíso.” (São João Damasceno); “A mulher é o instrumento de que se utiliza o diabo pra ganhar nossas almas.” (São Cipriano); “A mulher é a fonte do braço do diabo, e sua voz é o chiado da serpente.” (Santo Antônio).
Aristóteles, o pai da literatura, classificou a mulher como um “desenvolvimento interrompido” e a explicou como uma tentativa falha: “quando a natureza erra na fabricação de um homem, sai uma mulher.” E a barbárie veio assim, até o século XX coroado com o truculento tratado, em que Otto Weininger provou que a mulher não possuía alma.
Desalmadas, também foram as mulheres de Schopenhauer; frustrado com o sexo oposto declarou: “essa raça de estature-meã, ombros estreitos, ancas largas e pernas curtas”. E muitos seguiram o conselho de Nietzsche: “Quando te dirigires à mulher, leva contigo o chicote.” Ingenuamente, só pra ser elegante, têm aqueles que seguem o conselho até hoje, e o resultado é visível, basta checarem os índices da violência. Numa tentativa de se fazer algo, criaram a popular e emblemática lei Maria da Penha, cunharam um vocábulo, um tal senhor feminicídio que, por ironia, um substantivo masculino, mas a voz mais ouvida nos tribunais , ainda é a da “Matrona, velha conhecida e guardiã da sociedade, a ilustríssima Senhora Honra.”
A relação entre os sexos ainda é pautada, talvez inconscientemente, pelos velhos dogmas da sociedade machista, essa mesma, foi a que mais perdeu. O fanatismo deixou que passassem em branco os versículos do Alcorão Sagrado que enfatizam as virtudes das mulheres e as põem em nível de igualdade ao homem perante Deus: “Humanizai-vos com elas, pois se a menosprezardes, podereis estar depreciando um ser que Deus dotou de muitas virtudes. “ (4ª Surata, An Nissá, versículo 19). A ignorância optou por tingir de preto as páginas que Platão, quixotescamente, opinou pela abertura de todas as carreiras e oportunidades para ambos os sexos.
A sociedade vigente produz gêneros competitivos entre si, e filhos com esse modelo a seguir. Rebentos, cuja mãe não mais pertence ao lar, mas ao mercado de trabalho que exige uma mulher que caiba dentro de um manequim 40, que domine mais de uma língua, que seja bela, que seja jovem ou pelo menos que aparente. Quem não atende a esse padrão, que se tenha pelo menos uma bunda assim... Nesse contexto, qual é o lugar dos filhos? Onde pô-los? E a resposta que não quer calar: __Põem por aí em qualquer escola, porque “aquele” não existe mais, e já provocou um rombo na sociedade. Razão tinha Exupéry _”O essencial é invisível aos olhos” . E por falar em razão, voltemos a Heráclito e a lei do universo, que não percamos as esperanças.
Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 23/02/2018