Frente e Verso
Não reivindico, para mim, um cargo celestial:
não sou loura, nem tenho a parte posterior avantajada.
A dianteira, ao natural.
Eu sou assim, desprovida de tudo.
Desproporcional, só tenho a língua.
E mais ainda, ferina e letal.
Uma quase disartria é o que eu tenho de mais bonito.
Só consigo as coisas no grito.
Com minha perna torta, exercito toda manhã,
no meio da corrida, uma cambalhota.
E bem de frente a sua porta,
eu mordo uma maçã.
Meus passos me prometem uma entrada triunfal à terceira idade.
E também uma ode, que eu escrevo em versos
Com ou sem rimas..., sem métricas...
Palavras puras arrancadas de dentro de um ponto cego.
Sem culpa alguma, pois nada existe de verdade,
nem o que eu grito ser meu..
Tudo falso: os pontos...as virgulas...os espaços.
Pule tudo e caia no meu regaço.
Eu te prometo um beijo com sabor de Judas,
é tudo que eu te ofereço,
antes que me desfaço.
Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 13/07/2020